Por Leonardo Lima Ribeiro
Desde que ser de esquerda no Ocidente se tornou uma espécie de coparticipação ideológica do politicismo dos Democratas norte-americanos em oposição aos Republicanos foi decretada a morte da esquerda em seu sentido histórico antevisto como horizonte e baliza revolucionária.
A dicotomia e disputa “Republicanos x Democratas” é parte de uma estratégia geopolítica mundial para apagar o que de fato significa ser e agir como alguém de esquerda. Essa disputa está sendo exportada para todo o mundo ocidental. Guerra híbrida pura.
Ser de esquerda não é sinônimo de existir como um social-democrata, embora inicialmente os bolcheviques, por exemplo, tivessem uma compreensão distinta da própria ideia de social-democracia. O conteúdo interno da ideia foi essencialmente modificado no entreguerras mundial. Hoje há uma diferença de natureza entre ser comunista e ser um socialdemocrata. Pela seguinte razão, que segue adiante.
Che Guevara, Fanon e Malcom X seriam perseguidos pela social-democracia se estivessem vivos hoje, assim como Rosa Luxemburgo foi assassinada por grupos vinculados à social democracia, os Freikorps. Os socialdemocratas são facções mafiosas que a burguesia escolheu para chamar de sua como meio de paz armada ocidental no pós-guerra, de modo a criar uma esquerda antissoviética como alternativa que pudesse caber nas táticas de seus mesquinhos interesses.
O Welfare State pós-guerra veio acompanhado dessa recodificação cultural do “ser de esquerda” no Ocidente. Não por acaso os comunistas foram isolados e perseguidos durante as ditaduras militares latino-americanas a partir da década de 60 para impedir novas “revoluções cubanas” no continente, da mesma forma que quem ficou de pé foram justamente os que delataram ou se mantiveram numa linha alternativa reformista.
Quem sobrou foi mentalmente colonizado. Assim como o tabu que impede a crítica real ao identitarismo eis uma censura tácita que o Departamento de Estado dos EUA impõe para todos os partidos políticos mainstream que, operando como sucursais do império, se dizem colocar sob o espectro daquilo que se entende como sendo de esquerda.
O tabu é duplo: tanto impedir a crítica radical ao identitarismo fascistoide quanto impossibilitar qualquer tipo de entendimento popular de que ser de esquerda não é operar como um cão de guarda da social democracia burguesa e capitalista. Com esse duplo embargo a repetição das falsas disputas se dá em um círculo vicioso, numa espiral burguesa que gera em efeito cascata a ressignificação generalizada da ontologia social do que significa fazer oposição à extrema-direita.
No limite, todo um apagamento das experiências e lutas do socialismo e do comunismo durante os séculos XIX e XX está seguindo numa intensidade inimaginável. Isso significa que, com esse apagamento da história dos nossos, a esquerda facilmente fica aberta para incorporar as principais características de seus inimigos, como o próprio fascismo. Apagar a história, distorcê-la, “tornando-me o inimigo no conteúdo, mas diferenciando-me na forma”. É isso que está em jogo.
Pois bem, é o que está acontecendo no presente momento em todo o mundo, não por acaso o identitarismo de esquerda e de direita são irmãos mais novos do neonazismo. O imperialismo é parte interessada em reproduzir as pseudodisputas, com o objetivo comum de irmanar simbioticamente a essência, a identidade dos que estão implicados na oposição.
Por Leonardo Lima Ribeiro.
