Por Leonardo Lima Ribeiro
Comecemos este curto texto com a seguinte polêmica: não é possível que ainda não se tenha percebido que este país não foi sequer formado por princípios liberais na emergência de sua tortuosa economia política. Não há, e nunca houve, liberalismo no Brasil, mas sim corporativismo e casamento de interesses, algo muito próprio de regimes fascistas e pré-fascistas. Nascemos de uma incubadora fascistoide capitalista chamada colonialismo, e paradoxalmente essa herança transversaliza a conduta da maioria das pessoas.
No presente “pós-moderno” e “identitário”, o Brasil vive seu cotidiano sem sequer ter passado pelo liberalismo político como espírito de uma época. Embora eu seja marxiano e, consequentemente, não liberal, é preciso perceber que muitos marxistas sequer compreendem a gravidade desse problema, uma vez que o liberalismo foi fundamental para forjar meios mais sofisticados de pensamento e prática política. Tem seus problemas, mas também sua importância a ser posta em perspectiva. Fomos do antigo ao contemporâneo sem sequer nos tornarmos modernos.
Essa constatação brutal nos enterra todo dia um pouco mais. Daí podemos entender a alta propensão ao autoritarismo e a cínica hipocrisia de todas as tribos aqui agrupadas em prol de interesses financeiros, inclusive aquelas mais autodenominadas “descoladinhas”. O corporativismo e a autoproteção é que dão o tom de sua gênese e estrutura.
A designação correta do modo de sociabilidade generalizado no Brasil é “corporativismo”, como uma espécie de lógica de shogunato, de clã, antiliberal sem a experiência do liberalismo, e, no limite, anticomunista em sua essência. Consequentemente, o identitarismo não é liberal, mas corporativista antimarxiano, por ser intrinsecamente fascista.
Sendo este o caso, é também necessário considerar que essa estrutura não persegue apenas os inocentes, pois é próprio do fascismo e do corporativismo deglutir seus próprios filhos, que desempenharam papel central na sua persistência. Pura autofagia: uma verdadeira colônia penal kafkiana, onde o sistema destrói aqueles que ajudam a sustentá-lo.
No Brasil, a perseguição aos quadros políticos que desafiam esse sistema ocorre através de processos de calúnia e difamação, sempre com o apoio da grande mídia e ONGs com interesses inconfessos, financiadas por estrangeiros. Esses agentes internos e externos trabalham juntos para desestabilizar qualquer tentativa de mudança real, operando como correias de transmissão dos interesses imperialistas que continuam a subjugar o país.
O imperialismo contemporâneo age como uma ofensiva do capital contra o Brasil, e as elites políticas que se colocam no centro do poder são apenas peças desse jogo. Essas figuras, muitas vezes disfarçadas de progressistas, cumprem o papel de facilitadores do projeto de desmonte nacional, permitindo que o capital estrangeiro explore nossos recursos e mantenha o país sob o controle de interesses externos.
A crise ética, as queimadas que devastam o país e a própria perseguição aos quadros políticos que deles destoam não são acontecimentos isolados. O país está colapsando, e junto com ele, o governo atual segue o mesmo destino. A questão que se coloca é se esse colapso já estaria previamente planejado. Suspeito que o imperialismo esteja orquestrando todos esses fatores simultaneamente, com o objetivo claro de deixar o Brasil de joelhos. Tal cenário de caos e destruição plenejados não é acaso, mas uma estratégia meticulosamente articulada para assegurar a subserviência do país aos interesses estrangeiros.
Esta avaliação marxiana busca expor a dinâmica do corporativismo e fascismo que perpassa a política brasileira, evidenciando como a ofensiva imperialista molda e manipula o cenário nacional para seus próprios fins, utilizando-se de tribos nacionais como seus instrumentos autofágicos. O fato de o país não ser liberal, e sim corporativista, perpassa a dinâmica de interesses diversos, incluindo os grupos identitários. O liberalismo sempre será uma ideia distante da história brasileira, pois o país, moldado por práticas arcaicas e interesses corporativistas, continua a ser subjugado por forças internas e externas que mantêm a estrutura de desigualdade, exploração, oportunismo e coligação de interesses espúrios que garante a liga da conexão dos que pertencem a uma determinada matilha.
Além disso, é crucial considerar a perspectiva de Clausewitz sobre a moralidade em contextos de guerra. A perda da moral por parte de quem luta por causas justas é uma ameaça grave, pois não se trata apenas de ser derrotado pelo inimigo, mas por si mesmo. Em uma guerra, essa perda de moral pode levar ao fim da força e da capacidade de luta, revelando um perigo interno que pode ser tão destrutivo quanto qualquer ameaça externa. Esta dinâmica de autodestruição é visível no cenário político atual, por meio de que a decadência moral de alguns grupos e a fragmentação interna contribuem para um neofascismo autodestrutivo semelhante ao bolsonarismo, ou até mesmo uma espécie de desdobramento que dele se segue.
Teria o Brasil se tornado uma sociedade de vigaristas neofascistas, deslumbrados consigo mesmos à medida que o capital faz todo o tecido social entrar em erosão? É bem provável que sim. E o paroxismo da resposta a essa questão pode gerar uma espiral de implosão civilizatória que catapulta o país para um passado ainda mais pré-moderno, intrinsecamente antiliberal e, no limite, radicalmente anticomunista.
Não por acaso, podemos nos colocar a favor da ideia constamentemente divulgada de que a esquerda está morta. E quando ela está morta, o que resta é o fato de que aqueles que falam em nome dela passarem a ser os principais servidores do projeto de transformação do futuro próximo no mais distante dos passados. Afinal de contas, esses sicofantas sabem que é imensamente mais eficaz combatermos inimigos declarados e que não fazem parte de nossos quadros do que enfrentarmos espiões que nos esfaqueam pelas costas em nossas próprias fileiras, bem ao modo lavajatista.
Em síntese, o Brasil está passando por um processo de destruição controlada que, em muitos aspectos, remete a práticas históricas repressivas. Aqui, a comparação com a queima do país com o nazismo ilustra a extensão do desmonte das estruturas nacionais atuais, que afeta dimensões econômicas, sociais, culturais e ambientais.
Antes os nazistas queimavam livros e estipulavam locais específicos para matar. Agora se trata da morte de um país inteiro em vários aspectos, no caso o Brasil. O imperialismo assim o deseja para instaurar um retorno ao passado das capitanias hereditárias, estabelecendo controle integral de todo o território nacional pelas vias de sua autodestruição. Destroem para reconstruir, hipotecando terras e bens públicos após financiarem a reconstrução dos que foram por eles implodidos.
Esse fenômeno é interpretado como uma forma moderna de colonização, onde o país está sendo desmantelado para facilitar o controle externo, similar ao modelo das capitanias hereditárias. A lógica de “destruir para reconstruir” é evidente, com a devastação das riquezas e a subsequente privatização de terras e bens públicos, que beneficiam principalmente elites globais. O conceito de “capitalismo de desastre” emerge como uma chave para entender como crises, muitas vezes fabricadas, são utilizadas para justificar políticas de austeridade e privatização, enfraquecendo o Estado e submetendo o Brasil a interesses estrangeiros.
Essa dinâmica não apenas retrocede o país ao passado colonial, mas também reforça uma dependência econômica que limita a autonomia nacional. A reconstrução prometida, portanto, não resulta em prosperidade real para a população, mas em uma nova forma de dominação imperialista. Esse cenário evidencia a necessidade urgente de uma análise crítica e de estratégias que visem preservar a soberania e os recursos do país frente às pressões externas.
Essa dinâmica não apenas retrocede o país ao passado colonial, mas também reforça uma dependência econômica que limita a autonomia nacional. A reconstrução prometida, portanto, não resulta em prosperidade real para a população, mas em uma nova forma de dominação imperialista. Para reverter essa onda de barbárie, é necessário um movimento de transformação profunda, com uma revolução socialista que medie protestos em níveis nacional e internacional. A esquerda brasileira em alinhamento com os párias e trabalhadores, particularmente aqueles vinculados às tradições comunistas, devem começar por blindar-se de qualquer vínculo com práticas de grupos corporativistas.
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