
Francisco Chagas
Foi Marx o autor que mais estudou, aprofundou e elucidou as leis gerais fundamentais do modo de produção capitalista e suas contradições inerentes. É preciso compreendê-las para entender o objeto do debate: o movimento do capital e as relações sociais capitalistas.
Este breve texto tem o intuito de expor, resumidamente, algumas ideias referentes ao pensador Karl Marx. Em época de “decadência ideológica”, geralmente, os “pontos de vista” individuais, as “fofocas” intencionais e as “teorias pseudo-científicas” tomam o lugar da análise crítica fundamentada. Não é por acaso que nesses períodos surgem “intelectuais” com “análises” tão superficiais quanto excêntricas. É o que acontece quando o assunto é Karl Marx.
Marx elaborou um método/teoria social para compreender um objeto determinado: as relações sociais e de produção capitalista, ou seja, o próprio capital. Para isso, estudou criticamente vários gigantes do pensamento filosófico, econômico e social. A partir de seus estudos e pesquisas, elaborou categorias de análise importantes e nos ofereceu uma nova e complexa concepção ontológica da realidade e do mundo. É inegável a sua contribuição, tanto em relação à História, Antropologia, Economia, Direito, Filosofia, como em outras áreas do conhecimento.
A teoria/método marxiano é resultado de um processo intelectual complexo em que ocorreram várias continuidades e rupturas.
A sua obra pode ser entendida, ao mesmo tempo, como síntese de um grande esforço teórico-intelectual e também como um “guia para a ação”. E pode ser resumida como sendo uma crítica da economia política. A partir daí é que podemos entender mais coerentemente o pensamento e teoria desse pensador-semeador de ideias. A crítica da economia política se constitui, nesse sentido, como uma crítica radical ao capital, ao analisar o seu movimento, suas origens históricas, desenvolvimento, suas contradições intrínsecas e seus limites estruturais. Daí, a sua conclusão: desse movimento real e de suas contradições surgem as possibilidades históricas de superação do próprio capital.
Entretanto, esta não é uma questão que se resolve apenas com discursos superficiais, muitas vezes acompanhados de intolerância e dogmatismos quase religiosos. Compreender isso, significa, também, ir além dos limites de discussões apenas “ideológicas” de alguns grupos conservadores e/ou reacionários ou “reformistas”, às vezes mais à “esquerda”, às vezes mais à “direita”, ainda tão em moda nos dias de hoje.

O pensamento de Karl Marx não é apenas atual, ele é, também, necessário. Excluindo-o, estamos ao mesmo tempo descartando a possibilidade (entre outras) do entendimento e da intervenção com mais consciência da realidade.
De fato, trata-se de entendimento mais profundo, de análise crítica mais rigorosa. Este é o ponto a que chegamos: Quem hoje se propõe a discutir as ideias e a contribuição teórica ao invés de aspectos particulares da vida pessoal de um autor sobre o qual, muitas vezes, não leu e/ou muito menos estudou?
A falta desse entendimento faz com que alguns ainda insistam em defender o indefensável: uma fictícia eternidade do capital como se fosse algo perene, natural e dado para sempre, e não houvesse outra explicação.
A teoria/método do pensador Karl Marx serve para desmontar toda essa forma de pensar e mostrar que o capitalismo é mais um modo de produção, ou seja, uma relação social histórica e transitória, como o foram, por exemplo, na Europa, o “escravismo” e o “feudalismo”; ou o escravismo moderno-colonial, entre nós, mercantilista, entre os europeus.
Por isso, a desigualdade social, a produção generalizada de “mercadorias”/valor, a forma do trabalho abstrato, a exploração capitalista, os limites e contradições concretas do próprio capital, com todas as suas consequências sociais e (des)humanas, precisam ser discutidas e entendidas mais profundamente.
E foi Marx o autor que mais estudou, aprofundou e elucidou as leis gerais fundamentais do modo de produção capitalista e suas contradições inerentes. Apesar das mudanças em suas formas de expressão fenomênica, estas contradições e “leis/tendências” históricas do capital (inclusive em sua forma atual de capital fictício/especulativo) permanecem em sua essência e fundamentos. É preciso compreendê-las para entender o objeto do debate: o movimento do capital e as relações sociais capitalistas.
Nesse sentido, o pensamento de Karl Marx não é apenas atual, ele é, também, necessário. Excluindo-o, estamos ao mesmo tempo descartando a possibilidade (entre outras) do entendimento e da intervenção com mais consciência da realidade. Excluindo-o, corremos o risco de permanecer nos limites da opinião pronta e apressada, de um ecletismo estéril e de polêmicas político-ideológicas em torno de uma caricatura de Marx ou de um fantasma desconhecido, que já enterraram tantas vezes e tantas vezes já ressuscitaram.
O ser humano real Karl Marx, foi um semeador de ideias. Um homem do século XIX que conseguiu a “estranha” proeza de ser ainda mais atual no século XXI, pela consistência, coerência e profundidade das suas ideias. Um pensador incontornável.
E, tudo indica que enquanto permanecer o seu objeto (o capital), a teoria social de Karl Marx continuará atual. Por isso, apenas quando deixar de existir o capital, a teoria de Marx poderá perder a sua atualidade, pois, certamente, assim, já não mais servirá para explicar um objeto que, então, deixou de existir.
Portanto, enquanto existir o capital, queiramos ou não, Karl Marx (teoria e método) será necessário intelectualmente, como pensador profícuo e como exemplo de rigor investigativo. Isto pode aparecer como um tipo de “sorte” para alguns (os lutadores pela emancipação humana). Mas, pode parecer um “incômodo” para outros (as mentes supostamente “preguiçosas”).
Mas, como já disse o próprio Marx, referindo-se à sua obra: “Pressuponho, naturalmente, leitores desejosos de aprender algo de novo e, portanto, de pensar por conta própria”.
Talvez, também, por isso, para alguns grupos e/ou classes sociais conservadoras e/ou reacionárias, Karl Marx (este semeador de ideias incontornável) continua sendo uma “ameaça” iminente, um constante “perigo”. Ou mesmo um “recalque” ainda não resolvido?! É preciso e possível desvendar esse “mistério”?! Isto nos diz respeito!
Francisco Chagas é membro do Conselho Editorial de A Comuna e professor da Universidade Estadual de Roraima.
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