Morreu Don Diego Armando Maradona. Viva Don Diego!

A América Latina pode ser a identidade que nos possibilita lutar contra o capitalismo, contra os impérios seculares erguidos sobre massacres, açoites e espoliação.

À esquerda, a pintura surgida no lado palestino do muro sionista da vergonha: Maradona, combatente da causa palestina, com keffieh na cabeça e no rosto.

Fábio Sobral

Diego Maradona faleceu no dia 25 de novembro de 2020. Ano trágico. Ano de pandemia. Ano de morte sempre presente. Ano da morte de Don Diego.

Maradona foi um artista do futebol. Um artista genial. Dos que vi jogar era insuperável. Mas sua arte não esteve somente a serviço dos estádios e dos negócios privados das grandes corporações. Tornou-se artista que tem a arte como manifestação política para a liberdade dos oprimidos. Arte fina e pura, mas não insensível, não neutra e individualista, apenas para o domínio do ego. Arte do amor aos oprimidos, da solidariedade e do combate. E de oposição ao capital dono do futebol.

Lembremos que a arte dos pequenos artistas de rua, na então chamada Indochina, preparou o povo para uma luta contra sucessivos impérios – os imperialismos capitalistas francês, japonês e americano, derrotando a todos fragorosamente. A arte construiu uma identidade anticolonial, anti-imperialista, uma luta identitária de dimensões não particularistas ou integradas à manutenção do poder capitalista.

Lembremos das lutas identitárias anticoloniais dos povos africanos. Do povo negro dos Estados Unidos na organização Panteras Negras. Dos indígenas massacrados pelo colonialismo inglês nas Treze Colônias, posteriores Estados Unidos da América. Dos povos indígenas em luta contra os impérios espanhol e português.

Lembremos das lutas dos quilombos, de Zumbi dos Palmares, de Bárbara de Alencar e Frei Caneca na Confederação do Equador. Dos indígenas perseguidos e massacrados nas repúblicas burguesas e do Império do Brasil saídos de independências políticas dos impérios europeus, mas incapazes de alcançar a independência econômica e o fim da exploração das camadas populares.

Lembremos das revoltas no Brasil. Malês, Sabinada, Balaiada, Cabanagem, Canudos. Do massacre de comunidades pacíficas como o Caldeirão da Santa Cruz do Deserto. Do massacre em Nossa Senhora do Desterro, rebatizada como Florianópolis em homenagem ao seu algoz, Floriano Peixoto. Ele e seu exército de corta-cabeças.

Don Diego está na dimensão das grandes figuras combatentes da América Latina pela liberdade e pela destruição da exploração dos oprimidos. Sua defesa de Cuba, da Venezuela, da Argentina humilde, o coloca ao lado de Pancho Villa, Emiliano Zapata, Farabundo Martí, Sandino, Fidel, Che, Camilo Cienfuegos, Chavez, Dom Fragoso, Dom Hélder Câmara, Dom Pedro Casaldáliga, Irmã Dorothy, Frei Tito, Frei Betto, Paulo Freire, Nise da Silveira, Marielle Franco, Milton Santos, Marighella, Caio Prado Júnior, Florestan Fernandes, Manuel Bomfim, Ruy Mauro Marini, Vânia Bambirra, Eduardo Galeano, André Gunder Frank, Ailton Krenak, David Kopenawa, Raoni Metuktire, Juruna. Tantos. Quase incontáveis.

Lutas de identidades, identitárias mesmo, mas não para a construção de pequenos acordos legislativos com o capital. Lutas identitárias populares, negras, índias, de mulheres, de LGBTQI. Não há problema em ser identitário. O problema está no inimigo escolhido.

Don Diego lutou pela identidade latino-americana. Luta identitária, mas com um inimigo claro: a exploração capitalista.

A América Latina pode ser a identidade que nos possibilita lutar contra o capitalismo, contra os impérios seculares erguidos sobre massacres, açoites e espoliação.

Milton Santos alertava que a solução deve vir dos pobres. Não é possível uma solução de um novo império dominador. Um novo centro de poder econômico, militar e político. Basta de impérios e de guerras. Guerra ao capital. Chega de uma América Latia ensanguentada. Chega de um mundo afogado em sangue e fogo, de exploração de seres humanos por outros, de destruição da Natureza nos levando ao precipício e ao suicídio.

Que surja uma identidade latino-americana para nos salvar do capitalismo. Para nos levar à eliminação da exploração.

Que Don Diego e sua “Mano de Dios” sejam eternos. Que possamos nos libertar do domínio do capital e possamos alcançar a divindade artística de uma humanidade livre da miséria, da exploração, da violência.

Fábio Sobral é membro do Conselho editorial de A Comuna.

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