Por Fabio Sobral

Em 15/11/2020 foi assinado, em Hanói, o maior acordo de livre comércio do mundo abrangendo os dez membros da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), além de China, Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia. Inimigos históricos e geopolíticos chegando a um acordo comercial que abrangerá 30% do PIB mundial. Em 30/12/2020 a União Europeia (UE) e a China decidiram assinar um acordo de investimentos que permitirá maior acesso das empresas europeias ao mercado chinês.
Trata-se de uma aproximação inédita entre os dois gigantes e do surgimento de profundas alterações político-econômicas em que a subserviência europeia aos interesses dos Estados Unidos passa a ser superada. Delineia-se um distanciamento europeu das crescentes restrições impostas pela guerra comercial travada pelos EUA contra a China.
Paralelo a isso, a China promove uma gigantesca elevação do tamanho das suas classes médias, atingindo 550 milhões pessoas em três anos, segundo a consultoria McKinsey. Será o maior mercado consumidor do mundo. Parece-nos cada vez mais nítido: a China transita de país exportador de bens manufaturados e importador de matérias-primas para um novo patamar: o de principal consumidor mundial de produtos elaborados. Ela se transforma, paulatinamente, em força motriz da demanda efetiva mundial. As consequências e confluências de todos esses processos serão monumentais.
Arriscamo-nos a prever algumas:
1) o centro produtivo e comercial mundial se deslocando para o extremo da Ásia;
2) a moeda chinesa (yuan) sendo progressivamente aceita como substituta do dólar;
3) um papel crescente para as bolsas de valores daquela região, substituindo a ponte Nova Iorque-Londres como centro financeiro mundial.
Ainda uma consequência impactante: a reindustrialização de muitos países para atender a este mercado. E o Brasil estará fora!
Fábio Sobral é membro do Conselho Editorial de A Comuna e anima um canal no Youtube.