Capitalismo: a inteligência artificial e o colapso do trabalho humano

Por Augusto Souza; editoração e diálogo para pesquisa temática: Leonardo Ribeiro.

O trabalho foi a gênese histórica do processo de humanização da nossa ancestralidade, na fabricação e construção das ferramentas, no diálogo entre homens e natureza. O trabalho foi o salto dialético para humanização e sua consequente ruptura relativamente às outras espécies de animais.

A atual revolução da inteligência artificial da manufatura 4.0, é uma reviravolta para o mundo do trabalho, o qual nós conhecemos até aqui. O desenvolvimento generalizado de robôs humanoides sapiens equipados de sensores óticos com capacidade de ler, conhecer, aprender de forma autônoma uma rotina de trabalho assusta.

A automação do mundo do trabalho sofrerá em breve uma revolução silenciosa, que causará significativamente a destruição de milhares de postos de trabalhos no mundo, com direito à inexistência de diversas profissões. São vários os ramos de produção que serão impactados pela revolução 4.0 dos robôs da inteligência artificial, entre elas a agricultura, onde tudo será monitorado com sistemas de sensores para medir a temperatura, a melhor época da colheita, e sua consequente mecanização. Na medicina, os diagnósticos preventivos com sequenciamento genéticos dirão a probabilidade do desenvolvimento de doenças em determinados pacientes, e a própria cirurgia à distância. Enfim, as profissões mais atingidas, são aquelas de rotinas repetitivas as quais não envolvem emoções ou processos criativos.

A nova revolução da manufatura da inteligência artificial, atingirá certamente trabalhadores de extratos médios da sociedade, e consequentemente àqueles de um menor nível de elaboração e formação intelectual. Nos países desenvolvidos, o desemprego tecnológico poderá atingir 60 por cento dos postos de trabalho e profissões.

Nos países emergentes, estes impactos negativos do desemprego causado pela revolução da inteligência artificial serão sem precedentes. O número de trabalhadores desocupados se expandirá devido à baixa taxa de escolaridade e formação profissional nestes setores.

Todavia, os impactos não serão somente no mundo do trabalho, as empresas que não tiverem capacidade de incremento tecnológico desaparecerão num cenário de uma competição neodarwinista. A economia sofrerá também a falta de liquidez por conta da escassez do consumo, com isso as crises de recessão econômica por falta da massas de consumo e mercado para o giro e circulação do capital. Com massas de demandas reprimidas, por falta de trabalhadores ocupados, a tendência da economia é aprofundar ainda mais as crises. O aumento do capital fixo e investimentos em tecnologias avançadas aumenta a composição orgânica do capital e sua produção, mas o resultado é uma capacidade ociosa das instalações dos meios de produção.

Portanto, a pergunta que não quer calar: como a sociedade capitalista se comportará diante do aumento de uma legião de famélicos desempregados, uma horda supérflua gerando custos previdenciários, assistencialistas, sem a correspondente contrapartida de uma massa de pessoas jovens e expulsa do trabalho para manter os direitos daqueles em inatividade?

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: A FALÁCIA IDEOLÓGICA DO CAPITALISMO (AKA “bônus” track)

Nos últimos dias é notório o debate na imprensa da revolução tecnológica da inteligência artificial, robôs humanoides sapiens que, com seus algoritmos, são capazes de resolver “tudo”. São máquinas inteligentes que irão turbinar a revolução 4.0. do capitalismo em crise.

Na manufatura da inteligência artificial, os robôs humanoides vão ser capazes de fabricar mais rápido, e com a precisão que seres humanos não possuem. Na agricultura os sensores destes humanoides vão monitorar clima prevendo tempestade, época certa da colheita. São imensos os setores que a Santa inteligência artificial fará milagre. Os humanoides virarão médicos, e talvez sejam fêmeas ou machos na cama que substituirão gente de carne e osso capazes de causar vários orgasmos em uma só transa. Mas, afinal de contas, por que tanta euforia da mídia burguesa, papagaios e babacas do império do capital?

O capitalismo, desde seu nascimento, enveredou pelo caminho da ciência como forma de superar suas graves crises. Foi assim na primeira e segunda revolução, com a invenção da lâmpada, telefone, máquina a vapor. Na terceira revolução do século XX, foi a vez da revolução tecnológica da informação digital, com a internet. Agora, o canto da sereia capitalista é o da revolução tecnológica da inteligência artificial, com mais um produto das organizações tabajaras, os robôs sapiens que substituirão os homo sapiens.

Mas, tanto progresso tecnológico para quem, e a serviço de que. Evidentemente que nenhuma ciência tem na sua essência a neutralidade científica. O capitalismo forjou seu desenvolvimento científico a serviço da sua ideologia. A cada revolução, o capital muda sua pele de camaleão no sentido de melhorar a exploração, desenvolver métodos para dimensionar custos, prever prejuízos futuros, enfim, trata-se da ciência burguesa a serviço da acumulação capitalista.

Mas, não existe almoço grátis no capitalismo, o acesso a estas novas miragens tecnológicas tem um preço, quem quiser ter acesso terá que pagar por eles. No entanto, uma coisa que o progresso técnico do capitalismo em 200 anos de sua história não fez, e nem fará, é o de acabar com desigualdade social e a insegurança alimentar de milhões de famélicos no mundo, apesar do desenvolvimento das forças produtivas, já produzirem em escalas bilhões de toneladas de grãos e proteínas no campo, capazes de superar a fome da humanidade.

Desta vez, o capitalismo promete criar uma nova espécie ultrapassando o homo sapiens. Em lugar dos hominídeos os robôs sapiens. Está decretada a extinção da espécie humana pelo capitalismo, uma tragédia anunciada pelo filósofo Karl Marx em seu manifesto comunista, socialismo ou bárbarie.

Contudo, não se trata aqui de condenar desenvolvimento das tecnologias e seu correspondente desenvolvimento das forças produtivas. As novas tecnologias da inteligência artificial e da automação do trabalho em uma sociedade socialista poderá ter um impacto positivo caso haja a injunção de pressões significativas, engendrando um trabalho associativo sem os efeitos do desemprego, libertando os trabalhadores dos efeitos maléficos da alienação. Os trabalhadores estarão organizando tal produção e repartição da riqueza de forma justa, sem o fosso da divisão de classe e desigualdade extrema. Mas sem pressão e organização mínima, tudo vai pelos ares.

Com nossa organização, sobrará também tempo para o processo criativo, cognitivo emocional dos trabalhadores e suas aptidões prazerosas neste processo. As funções do trabalho repetitivo caberão de forma positiva às tecnologias, como a inteligência artificial, que não causará em níveis absolutos o desemprego, já que o julgo da economia de mercado desaparece e, juntamente com este o lucro, o trabalho assalariado compulsório com jornadas extensas de horas.

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