Na seção das crônicas do capital de hoje…

Por Alexandre da Silva

Na cidade em que moro houve um ato que fez parte da semana dedicada à luta da mulher trabalhadora. Muitos partidos do campo da esquerda participaram do mesmo: PSTU, PCB, UP, PSOL, PT…e muitos candidatos das respectivas legendas também. A grande maioria com palavras mágicas para definir seu mandato. Palavras como popular, mulher, opressões…etc.

Uma moça se aproximou de mim para vender um exemplar do jornal Avante, ligada à UP. O que chamou a atenção foi a sua fala: “Precisamos lutar contra as opressões nos fazendo representar através dos nossos candidatos”. Várias categorias aí são feridas: a de que o Estado  é neutro em relação às classes sociais, a de que o capital pode ser humanizado, etc.

A luta do grupo com o qual me aliei pare de pautas reformistas. Estamos lutando pela tarifa zero, “catraca livre”. Isto é fato. Só que observei que algumas pautas reformistas são mais palatáveis à esquerda eleitoral. No caso, a questão da opressão da mulher, da luta contra o machismo e a violência “estrutural da sociedade patriarcal falida e opressora” é algo que não atinge direta e imediatamente os interesses econômicos materiais de nenhum grupo ou facção no poder em aliança fisiocrática com a política local. 

Por outro lado, as empresas de transporte público municipal estão em estreita relação com a política local ajudando na manutenção dos fundos de campanha, com a boa vida de políticos locais, financiando jornais locais. Tudo isso forma um quadro indigesto de enfrentamento dos políticos de esquerda locais contra esses grupos poderosíssimos que dominam a política local.

Talvez isso explique o porquê da exclusão que sofremos durante o uso do microfone; explique o porquê de estarmos literalmente, fisicamente marginalizados ao bloco que circulou pelas principais ruas da cidade. Além disso, era possível ouvir, e eu prestei atenção para entender o que estava ocorrendo, os políticos locais dessa esquerda liberal vislumbrando e articulando prováveis candidaturas. 

A luta política reformista por transporte público gratuito é indigesta e mesmo indesejável para a fisiocracia política principalmente local e regional. Isto porque têm interesses econômicos imediatos de pequenas frações burguesas entranhadas nas administrações municipais e estaduais envolvidas nestas questões. E, ao mesmo tempo, é observável a cooptação prática das lutas contra as opressões, o que se segue depois de desligadas as soluções materiais e seu vínculo com a sociedade de classes, além de uma confusão entre meios e fins.

Concluirei realizando um exercício de imaginação. Consigo imaginar a filha ou esposa junto de um figurão dos transportes, com ele mesmo fazendo companhia; mas não consigo imaginar nenhuma dessas figuras em um protesto a favor da gratuidade do transporte público municipal ou outra esfera qualquer.

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