Emiliano Aquino
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“Não há algo assim como – palestinos. […] Eles não existem”. Essa frase de Golda Meir, ainda que pronunciada apenas em 1969, é reveladora do novo tipo de genocídio inaugurado pela Nakba.
Diferente de todas as colonizações e genocídios anteriores, o poder sionista nega, desmente que esteja colonizando, tampouco admite que esteja buscando destruir um povo histórico. Quando chegaram nas Américas, os europeus foram mais generosos: chegaram a duvidar que os povos originários tivessem alma, mas nunca negaram que eles existissem; chegaram mesmo a justificar, depois, sua colonização, que teria como objetivo salvar almas, quando as admitiu existir. Os criminosos belgas, que mataram 9 milhões de congoleses em apenas 3 anos, de 1909 a 1911, nunca negaram que existissem algo como comunidades originárias ali, dali. Tampouco os criminosos nazistas negaram que existissem aqueles a quem roubavam as propriedades, prendiam em campos de trabalho, que logo se transformaram em campos de extermínio; não, eles não negavam que havia uma “questão judaica” à qual pretendiam dar a “solução final”.
Neste específico aspecto, o projeto genocida do sionismo é mais grave, mais destrutivo, mais mentiroso. Ele se ergue sobre uma mentira fundamental, cuja primeira formulação foi aquela: “um território sem povo para um povo sem território”. Afirmar que “palestinos, não os há” é uma decorrência lógica daquela primeira premissa: “um território sem povo”. (E Primo Levi, o representante universal da literatura de testemunho, já nos advertia que, quando dogmas desse tipo “se torna premissa maior de um silogismo, então, como último elo da corrente, está o Campo de Extermínio”.)
Os genocidas europeus, na América, na África e na Ásia, precisavam, na lógica da “guerra justa”, justificar seus crimes com alguma mentira, seja qual fosse. Já os sionistas precisam realizar uma mentira. Precisam que não haja mais palestinos, para que, assim, possam dizer que nunca houve. Por isso, a história do sionismo no poder não é apenas a história de uma mentira, é também a história de uma violência cotidiana – terrível, de horror. A mentira que é essencial ao sionismo só pode impor-se pela violência; por isso, a história do sionismo no poder é uma história de sangue.
Foi contra essa mentira fundadora do Estado de Israel que os palestinos primeiramente se ergueram, em sua justa e legítima resistência política, cultural e militar. E nisso, foram amplamente vitoriosos até aqui: não há mais ninguém no mundo que desconheça isso: sim, há palestinos! Mas a violência que é essencial ao sionismo precisa continuar, mesmo quando sua mentira já se tornou puro cinismo. O Plano Trump-Netanyahu precisa ser compreendido como a tentativa de manutenção dessa mentira essencial à ideologia sionista, e de sua violência constitutiva.
Emiliano Aquino é membro de A Comuna e anima um canal no youtube sobre assuntos diversos. Este vídeo é um recorte de um vídeo maior, de todo o Ato Internacional pela Palestina, realizado em 4 de julho, cujas imagens foram produzidas e transmitidas pelo Portal Desacato, no qual está disponível o vídeo inteiro.