Por Leonardo Lima Ribeiro
Lavagem de dinheiro não é limpeza de roupa, a máquina envolvida é outra. O sistema financeiro tem sempre como entrar com medidas cautelares para forçar a mão do capital contra quem o acusa de lavagem de dinheiro, por exemplo. Transcendendo o COAF, o CRFSN (CONSELHO DE RECURSOS DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL) é formado pela articulação do Estado com entidades representativas dos mercados financeiros de capitais.

Dezesseis (16) membros ao todo são eleitos por meio dessa articulação (oito titulares e oito suplentes). Por uma via (estatal), oito deles são eleitos pelo Governo, partindo do Banco Central (BACEN), Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e Ministério da Fazenda. Por outra via, mais oito são eleitos, agora de acordo com as pressões de outros grupos burgueses, partindo precisamente das seguintes entidades capitalistas: Federação Brasileira dos Bancos (FEBRABAN), Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA), Associação Nacional das Corretoras de Valores (ANCORD), Associação Brasileira das Companhias Abertas (ABRASCA), Organização das Cooperativas do Brasil (OCB/CECO), Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (ABAC), Associação de Investidores no Mercado de Capitais (AMEC), Instituto de Auditoria Independente do Brasil (IBRACON).


Ou seja, o sistema financeiro do país é pressionado e reconfigurado então por representantes de órgãos, associações e institutos que estão infinitamente distantes do universo popular, embora com capilaridade estatal incontrolável, operando por meio de imperativos empedernidos as prescrições acerca de como deve agir o CMN – Conselho Monetário Nacional e outras cúpulas federais (BACEN, etc.) -, redirecionando suas políticas e redistribuindo seus recursos ao encapsularem em camisa de força burguesa o caminho de produção, circulação e depuração do dinheiro público.
É no mínimo risível como, na politologia do espectro total dos autointitulados esclarecidos e operadores da justiça social (estejam mais à direita ou mais à esquerda), ninguém promova ou ajude a organizar um combate visceral ao modo como o CRSFN é formado e mantido em convergência acintosa com a burguesia no bojo das engrenagens federais.
Ordenam e expandem o caos na economia nacional, engendrando por conseguinte a expulsão de tantas pessoas dos meios básicos de sobrevivência, sob a premissa do desvio de recursos monetários nacionais. Trata-se da psicopatia assassina da lavagem de dinheiro que redireciona os frutos do labor dos explorados vivos, com o objetivo de cimentarem a mais-valia do capital ao partirem de pilhagens indiretas do orçamento público e seus tributos.
É obrigação de todo e qualquer indivíduo alinhado à consciência de classe proletária e dos oprimidos em geral não apenas compreender o que está supramencionado, mas estabelecer o combate aos inimigos até mais brutais do que o bolsonarismo (um sintoma claro dos interesses dos órgãos supramencionados os quais comandam e legislam sobre o futuro do país).
Trata-se de algo muito mais profundo e determinante para vida dos párias sociais, muito mais do que gritar palavras de ordem de apoio indireto ao imperialismo, ao monopólio de suas mídias de massa e das redes sociais tribalizadas que nos primeiros estão assentados.
Uma tarefa urgente é a de recuperarmos a crítica marxiana não apenas em abstrato, porquanto precisamos sair da ordem genérica das imprecisões, aprofundando a compreensão do todo a partir da unidades celulares que compõem as estruturas institucionais do tempo presente. Esse tópico deve ser também um campo de luta, de conscientização e partilha.