Hegel em xeque e Marxismo na berlinda da indústria 4.0?
Por Leonardo Lima Ribeiro
O que atualmente ocorre no persistente presente tecnológico vinculado à economia política burguesa permite constatações antes não previstas. Tratemos de algumas delas no presente texto.
Primeiramente, cabe dizer que o apontamento dos processos a serem anunciados a partir da sugestão do título temático acima colocado se dá por meio de observações empíricas. Tais observações explicitarão e justificarão a intuição de que, por meio da atual conjuntura de sofisticações tecnológicas capitalistas, não apenas emerge uma atestação que se segue contra a clássica premissa hegeliana de que o Estado Moderno é o paroxismo da incorporação do movimento histórico do espírito absoluto.
Esta atestação material de primeiro nível, quando bem explicitada, impõe a derrota do argumento de que Espírito Absoluto expresso é o ponto final de concretização, na emergência histórica, de um devir contraditório e material o qual finalmente não prescinde de contornos sociais e políticos tomados como “amadurecidos”, na carne com gorduras institucionais advindas de algumas nações e sociedades tomadas como especiais na vanguarda do desenvolvimento humano. Esse argumento hegeliano cairá por terra ao longo do desenvolvimento do texto aqui em questão. Mas não apenas isso.
Ainda no tocante à delimitação do tema em formação, cabe também aqui infelizmente apontar para o desvelamento de tendências atuais que, além de colocarem em xeque as premissas estatistas hegelianas, são claramente opostas às expectativas humanistas de Marx e Engels, sob a batuta dos rumos imanentes ao materialismo histórico e à dialética que a eles estão vinculados. Cabe aqui apontar que, a partir dos avanços crônicos das novas tecnologias imanentes ao capital e a reboque das mutações endógenas empreendidas por instâncias imperialistas cada vez mais sofisticadas (DARPA e NSA, por exemplo), os trabalhadores e desalentados foram e têm sido cada vez mais preteridos física e espiritualmente.
Portanto, aqui cabe dizer que se tentará demonstrar duplamente que: [a.] nem a estatolatria hegeliana encarna a última etapa do desenvolvimento do espírito absoluto em sua relação com a ficcionada sociedade civil burguesa; [b.] nem podemos ser mais assertivos na enunciação de que a consciência proletária tem se tornado passível de um desenvolvimento capaz de refrear os avanços inumanos, para tanto tencionando enfrentamentos necessários que permitiriam a persistência de um por vir humanista no bojo da próxima esquina histórica da luta contra a burguesia. Há um hiato claro entre as condições concretas de vida dos proletários e os meios pelos quais podem sobreviver e se humanizarem, tornando então mais inviável o enfrentamento das dinâmicas de processos brutais de alienação em fábricas ou em outros espaços preenchidos por meios tecnológicos atuais, em geografias contemporâneas.
Tendencialmente, o que parece emergir como objeto de investigação atual é a construção cada vez mais complexa de meios tecnológicos a partir do militarismo e da economia política burguesa, com os oprimidos sendo arremessados no abismo de um processo de degenerescência fiduciária, com seus corpos hipotecados pelo mundo do trabalho ou em putrefação pela pressão da exclusão “civilizatória” cada vez mais irreversível.
Por um lado, desumanizam-se por dentro enquanto sobreviventes e trabalhadores encantados pelo fetiche de novas ferramentas digitais, no mesmo compasso em que são empurrados ao penhasco de uma individualidade marcada pela lógica burguesa da inutilidade, da apatia ou da obsolescência programada (um léxico transposto da lógica dos produtos tecnológicos ao universo dos indivíduos).
Como meios de geração da riqueza burguesa, os trabalhadores (mercadoria “força de trabalho” sob a dinâmica lógica e relacional entre o salário e o matemático tempo de trabalho socialmente necessário) não apenas são cada vez mais vistos como extensões das máquinas sob as estéticas e reconfigurações geográficas hodiernas, ao passo que são preventivamente antevistos enquanto obsoletos programaticamente.
A idade dos “old school workers” pesa sobre os ombros, com a vida lhes arrancando imensos fragmentos da alma. Os salários achatam, somados aos contratos terceirizados e algoritmizados mais volúveis, em complemento com a inserção do crônico rodízio que se utiliza da energia de jovens estagiários assoberbados pela dinâmica subjetiva do glitter e dos avatares, que emergem no mundo plástico dos simulacros pop-niilistas como cultura da derrota, da expressão da civilização que não cumpriu as falsas promessas que propunha para si.
Sem receio, devemos arriscar dizer que nem o moderno estado hegeliano nem o porvir humanista marxiano parecem ser cartas com as quais podemos contar. A querela de Marx contra Hegel parece ter sido colocada em suspensão independentemente dos colóquios universitários, uma vez que a objetividade histórica sob o prisma aqui colocado emparedou e paralisou as duas figuras históricas, conquanto a partir de situações diferentes.
Não se trata de testemunharmos o que aqui está em jogo com prazer, mas com a clareza da necessidade do compartilhamento de problemas históricos concretos que não devem ser escamoteados. Para que haja o esclarecimento do que aqui está em questão é preciso desenvolver primeiramente a premissa de que, enquanto seres históricos, estamos sendo arrastados para uma inesperada direção das tormentas autofágicas do capital, que operam em complemento aos avanços econômico políticos.
Como atuar de modo crítico à economia política, ao militarismo e às entropias tecnológicas que geram tendências que raramente são colocadas dentro do próprio marxismo hodierno, com o adendo de que a questão da mais-valia com base em mão de obra humana indexada às injunções burguesas tende a ser escanteada, com as máquinas inteligentes tomando a frente dos processos de consecução do materialismo histórico encabeçado pela burguesia?
Em cima do quadro problemático lancemos mão da seguinte citação:
“Artigo de Will Knight (14/03/2017) mostra que a Agência de Projetos Avançados de Pesquisa de Defesa (DARPA), uma divisão do Departamento de Defesa dos EUA, que explora novas tecnologias, está financiando vários projetos que visam fazer a Inteligência Artificial ficar mais inteligível, diante da explosão de pesquisas na área de IA. A Aprendizagem Profunda (Deep Learning) e outras técnicas de aprendizagem mecânica (machine-learning techniques) estão melhorando o reconhecimento de voz e a classificação das imagens de forma significativa e estão sendo usados em contextos cada vez mais avançados, incluindo áreas como a aplicação de medicamentos, onde as consequências de um erro podem ser sérios. Porém, enquanto o aprendizado profundo é incrivelmente eficiente para encontrar padrões no Big Data, geralmente é impossível entender como o sistema chega às suas conclusões. O processo de aprendizagem é matematicamente muito complexo, e muitas vezes não há como traduzir isso em algo que uma pessoa entenderia. Recentemente, um grupo de pesquisadores do Facebook desativou máquinas com Inteligência Artificial que desenvolveram uma linguagem própria para se comunicar, por meio de algoritmos complexos e ininteligíveis para os humanos. Embora os defensores da IA minimizem o ocorrido, como sendo apenas uma discussão boba entre dois “bots” (robôs em formato digital) que estavam negociando pela teoria dos jogos, o fato é, por si só, bastante simbólico. Este ano, um bot de inteligência artificial do Google superou o melhor jogador de Go do mundo. E a última novidade, um outro bot de IA, desenvolvida pela OpenAI, cofundada por Elon Musk, venceu os melhores jogadores de Dota2 em partidas individuais. Por conta disto, Musk voltou a criticar a expansão desregrada da Inteligência Artificial e disse que ela é mais perigosa que a Coreia do Norte. Ele receia o potencial militar do uso da Inteligência Artificial. Estes alertas deixam claro que, no futuro, Robôs sapiens podem ter memória e capacidade cognitiva potencialmente muito maior do que o cérebro humano e podem nos deixar para trás, servindo apenas para aumentar as desigualdades sociais e aumentar o poder bélico das grandes potências.” (José Eustáquio Diniz Alves em Robôs sapiens assassinos).
Em complemento relembremos também que:
“O economista Paul Krugman escreveu recentemente que se tem observado nas últimas décadas um aumento dos lucros do capital sem o correspondente aumento dos salários dos trabalhadores, e que as diferenças de salários entre trabalhadores qualificados e não qualificados deixaram de se alargar, ao contrário do que acontecia nos anos 80, numa espécie de ressurgimento da dialética Marxista. Uma das causas para esta situação é, segundo Krugman, o facto de muito do trabalho tecnológico avançado moderno ser realizado por máquinas cujos computadores são fabricados por… robôs — cujo custo por unidade produzida é menor até do que o equivalente aos baixos salários dos trabalhadores asiáticos. Segundo Krugman, há duas causas possíveis para estes desequilíbrios: por um lado o aumento dos monopólios de capitalistas sem escrúpulos; por outro o facto de muito do trabalho tecnológico avançado moderno ser realizado por máquinas cujos computadores são fabricados por… robôs — cujo custo por unidade produzida é menor até do que o equivalente aos baixos salários dos trabalhadores asiáticos. Os Estados Unidos encontraram assim na tecnologia um substituto barato para os humanos, que lhes permite competir com a China e outras economias orientais em grande expansão” (Pedro U. Limaem Krugman, Marx, Robôs e outras estórias sérias…).
Pela atenta leitura intercomplementar do que acima está expresso é cabível afirmar que o capital não está em crise, apenas prescinde com mais fôlego dos amparos humanos que o fundamentam como base expansiva até o presente momento. Em vez de o problema ser abordado por meio do infinito testemunho das crises, cabe apontar em direção complementar, avançando no desvelamento da articulação entre meios tecnológicos transversais, como a tríade Machine Learning, Robótica e Inteligência Artificial.
Não se deve tergiversar. O que aqui está em questão é a atestação da manufatura da produção de humanoides, que fazem Frankenstein tornar-se brincadeira de criança advinda de literaturas pretéritas. Com pesquisas burguesas avançadas no fomento da articulação entre Machine Learning, Robótica e Inteligência Artificial cabe primeiramente afirmar sem receio que, contra enunciações repetitivas e tradicionais do marxismo, o capital fixo, constante, agora está se transmutando em humanoide. Não apenas se expressam e dialogam com os homens, aprendem com eles ao passo que fazem varreduras de ideias encarnadas em nuvens e no www com os quais estão conectados. Algo assim é paupável pelo menos desde de 2015, com a robô “Sophia” sendo criada a partir de investigações e práticas científicas que ganharam corpo já em 2005.
De fato,
“O processo de substituir trabalhadores por máquinas está na origem do capitalismo. Cada empresa em particular (ou cada ramo de produção) aumenta a composição orgânica do capital e reduz o número de empregos em nível microeconômico. Mas com o crescimento da demanda agregada, há geração de emprego em novos setores produtivos e, no global, bem ou mal, tem havido aumento do emprego macroeconômico, nos últimos 250 anos. O aumento da composição técnica do capital e desemprego tecnológico faz parte da história do capitalismo e é um componente central do sistema. A dúvida é se o estágio atual está potencializando tanto este mecanismo que possa levar a uma mudança dialética entre quantidade e qualidade. Ou seja, o uso generalizado de robôs pode ser tão forte e universal que gere um desemprego tecnológico, de tal monta, que o trabalho global perca sua função essencial de gerar valor e o aumento da composição orgânica do capital acabe influindo mais sobre a diminuição da taxa de lucro do que sobre o aumento da taxa de mais-valia. Esta é uma questão empírica. Só a análise dos dados econômicos vai dizer se os robôs, inclusive os robôs sapiens superinteligentes (com Inteligência Artificial), vão contribuir para aumentar exponencialmente a taxa de mais-valia ou vão diminuir a taxa de lucro” (José Eustáquio Diniz Alves em Os robôs ficam do lado do capital na equação marxista ).
Os mortos sarcasticamente ganham vida, enquanto no mundo aparentemente natural dos vivos a exclusão social empurra os subutilizados exércitos de reserva populacional para as portas dos cemitérios. Os trabalhadores são desumanizados, numa liturgia que antecipa a anunciação nazista de que, esvaziados de si, já podem deixar escorrer a própria vida no subsolo que resguarda a memória telúrica dos que jamais acordarão novamente. Nós não somos Frankensteins, mas Sophia é talvez até um pouco mais do que isso.
Indústria 4.0 ou Manufatura Avançada
“O termo Indústria 4.0 significa, em essência, a integração técnica de sistemas físicos cibernéticos (CPS), em produção e logística e o uso da ‘internet das coisas’ (conexão entre objetos cotidianos) e serviços em processos (industriais) — incluindo as consequências para uma nova criação de valor, modelos de negócio, bem como serviços a jusante e organização do trabalho. O CPS refere-se às conexões de rede entre humanos, máquinas, produtos, objetos e sistemas de ICT (tecnologia da informação e comunicação). Nos próximos cinco anos, espera-se que mais de 50 bilhões de máquinas conectadas existam em todo o mundo” (IBA, 2017).
Atualmente, as transformações tecnológicas em curso, que projetam avanços ainda mais significativos para as próximas décadas, têm sido consideradas suficientes para provocar uma mudança profunda de paradigma na sociedade. Isso se dá a partir dos impactos que tais transformações causam na produção de novos produtos e serviços, nas diferentes formas de organização do processo produtivo e, portanto, no processo de destruição e criação de empregos e formas de organização do trabalho, tanto na indústria quanto nos serviços e no setor primário (agricultura, pecuária, extração mineral e vegetal).
“Estudos apontam que a Indústria 4.0 apresentará progressivamente fortes impactos nas formas de criação de valor, nas formas de organização de negócios, em termos da necessidade de reorganização das atividades de serviços e na organização do trabalho6 . A integração física e cibernética tem promovido uma profunda mudança nas formas de articulação entre homens, máquinas, processos produtivos e de prestação de serviços, e os sistemas de tecnologia de informação, comunicação, inteligência artificial (IBA 2017; Mckinsey 2017; ILO 2015; IEDI 2017). Os sucessivos avanços nas tecnologias de comunicação, informação e computação e sua enorme ampliação por meios físicos ou cibernéticos conectando pessoas, máquinas, objetos, processos produtivos, logística, atividades administrativas e organizações têm criado as bases para o destaque que vem sendo dado para à “Internet das Coisas” (IOT), à “Inteligência Artificial” (AI), à Robótica e ao “Aprendizado das Máquinas” nessa nova onda de profundas mudanças tecnológicas já caracterizadas por alguns também como a Quarta Revolução Industrial e Tecnológica” (Denis Maracci Gimenez e Anselmo Luís dos Santos em Indústria 4.0, manufatura avançada e seus impactos sobre o trabalho).
A inteligência artificial é um campo que envolve uma ampla gama de disciplinas científicas e tecnológicas. A coleta e organização de dados são essenciais para o desenvolvimento da inteligência artificial, uma vez que a análise de dados é fundamental para a criação de modelos de aprendizado de máquina e algoritmos que podem ser usados para resolver uma enorme variedade de problemas.
Além da estatística e da matemática, a inteligência artificial também se baseia em outras áreas, como a ciência da computação, a engenharia elétrica e eletrônica, a física e a biologia, entre outras. Por exemplo, a ciência da computação fornece ferramentas para o desenvolvimento de algoritmos e sistemas de software, enquanto a engenharia elétrica e eletrônica fornece soluções para o hardware necessário para o processamento de dados.
A física e a biologia também têm um papel importante na inteligência artificial, uma vez que muitos dos modelos e algoritmos utilizados em aprendizado de máquina são inspirados na forma como os sistemas biológicos, como o cérebro, funcionam. Além disso, a nanotecnologia e a nanoquímica são áreas que contribuem significativamente para o desenvolvimento de novos materiais e tecnologias que possam ser usados para aprimorar a inteligência artificial. A utilização de materiais mais resistentes e leves pode tornar os equipamentos agrícolas mais eficientes e reduzir o consumo de combustível.
A automação e a digitalização estão impactando todos os setores da economia, incluindo o setor primário, que é responsável pela produção de alimentos e matérias-primas. As tecnologias avançadas, como drones e sensores, estão permitindo uma análise mais precisa das condições ambientais e do solo, o que pode aumentar a produtividade da produção agrícola e pecuária. Além disso, a utilização de sementes geneticamente modificadas pode aumentar a resistência das plantas a doenças e pragas, bem como aumentar a produtividade. No entanto, é importante destacar que essas transformações também podem ter impactos negativos, como a perda de empregos.
“No ano de 2013, aparece um relatório da Oxford Marin School, sob responsabilidade de CarlBenedikt Frey e Michael Osborne, que calcularam que 47% dos empregos existentes nos Estados Unidos são suscetíveis à automação (Frey e Osborne, 2013), aonde se apresentam uma série de previsões sobre a evolução de ocupações derivadas da automação de atividades nos Estados Unidos. Suas estimativas mostram que quase 43% das ocupações nesse país estão ameaçadas devido ao impacto da chamada computorizarão das ocupações, particularmente na área do Aprendizado das Máquinas (Machine Learning) ou seja, os avanços no software de previsão e controle de processos. Outras contribuições recentes têm estimado cifras diferentes, mais estudos como World Economic Forum (2013) e World Trade Organization (2017) convergem na ideia de que as novas tecnologias representam uma grave ameaça às ocupações atuais, que impactarão negativamente atividades com menores salários e menor escolaridade” (Denis Maracci Gimenez e Anselmo Luís dos Santos em Indústria 4.0, manufatura avançada e seus impactos sobre o trabalho).
Neste contexto, acompanhemos a elucidativa contribuição audiovisual de Iuri Toledo.
Em complemento, também já se afirmou o seguinte:
“A crise econômica de 2008 acirra a competição capitalista de tal forma que a busca por baixos salários e alta produtividade, para aumentar as taxas de lucro, faz com que países imperialistas como a Alemanha, que tem como base estratégica da sua economia a produção industrial de alto valor agregado, fossem obrigados a buscar novas formas de encabeçar essa disputa por lucratividade no cenário internacional. Para solucionar este problema estratégico, a “Indústria 4.0”, ou então, a “quarta revolução industrial”, aparece como uma política de reestruturação produtiva, para elevar a produtividade através da aplicação tecnológica, isto é, intensificar a extração de mais-valia relativa. Com este objetivo, a política da “Indústria 4.0” é constituída por dois componentes: um de natureza ideológica e outro de natureza econômica, que se complementam. O componente de natureza econômica trata justamente de preparar uma reestruturação produtiva aplicando no interior dos processos produtivos o que há de mais avançado em termos de inovação tecnológica disponível no mercado. A Internet das Coisas possibilita conectar cada equipamento, máquina e ferramenta que está sendo utilizada na produção em uma rede, coletando dados em tempo real de tudo que está sendo feito, permitindo assim a utilização de um Big Data para armazenar uma gigantesca quantidade de dados para serem processados e traduzidos para patronal, sugerindo opções de gestão e controle dos processos. A robótica e a automação integrados a esse sistema de informação podem utilizar da Inteligência Artificial para corrigir falhas, adequar e mudar processos em tempo real, assim como o ritmo e parâmetros da produção. Ao digitarmos indústria 4.0 nos sites de pesquisas da internet, o que mais encontramos são artigos dizendo que as inovações tecnológicas aplicadas estão a serviço de acabar com problemas ergonômicos, trazer praticidade e conforto para os trabalhadores, quando não diretamente substituí-los. Porém, não é preciso grande averiguação crítica para compreender que existe uma política ideológica em curso. Basta olharmos para uma das produções literárias mais conhecidas por disseminar as “maravilhas” tecnológicas da “Indústria 4.0”. a “Indústria 4.0” é antes de mais nada um cardápio de tecnologias a serem aplicadas, a gosto da gestão empresarial, não sendo necessário ser aplicado em sua totalidade, podendo ser inseridos apenas alguns de seus componentes, para obter resultados específicos. Por exemplo em uma grande siderúrgica, onde a implementação integral da “Indústria 4.0” significaria trocar toda a instalação física e o enorme maquinário, o investimento seria estratosférico; porém adotar a informatização do controle da produção e processamento de dados para aperfeiçoar a gestão da mão de obra, dos insumos e da produção é um projeto muito mais viável. Podemos compreender portanto que a “Indústria 4.0” é capaz de conviver harmonicamente com o que há de mais atrasado do ponto de vista da exploração do trabalho. Na indústria de serviços, por exemplo, criou-se um modelo que minimiza a infraestrutura, onde os componentes da “quarta revolução industrial” vem conseguindo se disseminar de forma universal por todo o globo através das empresas de aplicativos, que maximizam seus lucros utilizando a mão de obra ultra precarizada, sem direitos trabalhistas, e onde as ferramentas de trabalho são custeadas pelo próprio trabalhador. Dentro das distintas combinações possíveis para aplicação da “Indústria 4.0” podemos sintetizar dois objetivos essenciais que possibilitam o aumento da taxa de lucro: 1) desvalorização do trabalho humano, e consequentemente também o custo do capital variável, com diminuição dos salários e direitos, junto com o aumento do ritmo de trabalho e a prática de acúmulo de funções, a chamada “polivalência”, tão cultuada pelos “modernos” RHs das multinacionais; 2) controle integral do processo produtivo e do próprio trabalhador, possibilitando a gestão global e imediata da produção em tempo real” (Gabriel Fardin em Quem são os robôs da Indústria 4.0?).
O capital está se metamorfoseando, com sua dinâmica recodificada em velocidade inimaginável, tal como se, numa metáfora, as cobras trocassem de pele em velocidade para além da percepção sensorial humana. Trata-se de uma autorruptura, que finda por converter o capitalismo enquanto metabolismo social em um organismo relacional distinto.
Algo que ocorre por meio de práticas nazistas ultrassofisticadas pautando a silenciosa morte em massa, que se segue sem muitos disparos, embora em complemento com bem balizada argumentação estatística em artigo recente, a partir da qual José Martins afirma que o capital aparentemente se descapitaliza em sua economia política, numa espécie de teatro destinado à preparação de uma nova guerra mundial, para tanto necessitando reter e transferir os recursos da propriedade privada burguesa para custeio das fábricas de armas e outros meios de fomento do apocalipse nuclear. Ademais, um adendo sobre isso pode ser ainda mais palpável na seguinte matéria Ucrânia se torna laboratório para uso de robôs assassinos recente acerca da utilização de robôs na guerra da Ucrânia, sob a forma de áudio logo abaixo:
“O mundo teve muitas guerras nos últimos 500 anos. No século XXI, provavelmente, não será diferente. Como mostra o professor de Harvard, Graham Allison, no livro “Destinados para a Guerra: Podem EUA e China Escaparem da Armadilha de Tucídides?”, sempre existe um risco de conflito quando um poder emergente desafia o poder estabelecido. Não é por outra razão que a China anunciou um plano nacional de desenvolvimento de inteligência artificial (IA) e está investindo US$ 60 bilhões para se tornar líder mundial em IA, até 2025, especialmente no setor de tecnologia bélica” (José Eustáquio Diniz Alves em Robôs sapiens assassinos).
E mais:
“No final de 2020, a Boston Dynamics (ao longo do texto chamaremos de BD) fez viralizar um vídeo propaganda onde seus robôs aparecem dançando, em detalhe um robô com nome de Atlas, que executa passos de dança complexos de dar inveja a muitos humanos que não possuem tal desenvoltura. Pela sua loja na internet, a BD vende apenas o robô Spot, que tem formato de cachorro como se fosse um objeto lúdico e inofensivo. Apesar desta forma de apresentar seus robôs à empresa, que foi criada de dentro do MIT, depois comprada pelo Google, e hoje sendo da Hyundai, possui contratos com polícias. Muitos dos protótipos da BD foram desenvolvidos pela DARPA, órgão de pesquisa do Departamento de Defesa dos EUA, e foram criados para possuírem função militar. As forças produtivas do trabalho (também conhecidas como forças produtivas técnicas), que incluem o maquinário, as técnicas e a forma de administrar o trabalho, que deveriam ser usadas para melhorar a condição de vida dos trabalhadores, ou seja, deveriam ser a base da melhora das forças produtivas gerais (também chamada de forças produtivas humanas, ou apenas como “forças produtivas”), que incluem a forma de organização dos trabalhadores, o sistema social, na verdade só são usadas para aumentar a extração e concentração da mais-valia nesse sistema. Após décadas de livros e filmes mostrando as possibilidades de as tecnologias que desenvolvemos serem utilizadas de forma que assusta nossas gerações atuais, é disseminada uma visão de que, o que é perigoso é a tecnologia. Na verdade, é o capitalismo que, em busca da manutenção desse Estado, utiliza de qualquer ferramenta para manter o mundo no caminho da barbárie. Sabendo que o Estado faz qualquer coisa para manter esse sistema de acumulação de Capital pelos donos das fábricas e dos robôs, nos confrontamos com a possibilidade mais próxima de que aconteça, com a robótica, o que ocorreu com outras máquinas mais antigas. O avião, na época em que foi inventado, logo virou arma de guerra no massacre de trabalhadores da Primeira Guerra Mundial e é, até hoje, com os caças supersônicos e drones. Aparentemente nada impede de os Estados usarem os robôs que a DARPA projetou para a BD, agora num estágio muito maior de desenvolvimento tecnológico, para assassinatos de trabalhadores, repressão de greves e lutas que estão por vir” (Levy Sant’Anna em Futuro, robôs e a Boston Dynamics).
Ainda não podemos ser fanaticamente assertivos para afirmarmos se se trata da morte do capital por meio de que todos escorrem para o precipício do fim, ou mesmo se diz respeito a novas camuflagens burguesas nos marcos de uma tarefa cujo horizonte é a dizimação de alguns bilhões de homens e mulheres substituídos por humanoides turbinados pela recente IA ChatGPT e outras mais.
Por uma via ou por outra, inesgotáveis rupturas internas têm colocado dilemas imensos sobre o significado da vida, e mesmo acerca do conceito de emancipação humana. No limite, precisamos indagar sobre como a luta de classe deverá ser inclusive repensada à luz deste great reset, tal como está bem problematizado no programa 17 da Rádio Peão:
“A “Indústria 4.0” impõe ao trabalhador que a ele não cabe mais pensar nem mesmo sobre seus próprios movimentos, sobre os procedimentos que a ele são incumbidos, não cabe a ele definir com que força apertar um parafuso, qual postura é melhor para executar sua função, que trajeto fazer e em quanto tempo. Tudo já está pré definido no maquinário e nas ferramentas de trabalho que pertencem ao capitalista, ou seja, na propriedade privada dos meios de produção, elevando assim para fora da órbita terrestre os níveis da alienação do trabalho. Cada aparato tecnológico está ali para que cumpra mais funções, em menos tempo, que cada segundo de seu esforço se transforme em mais valia. Nem mesmo a intimidade do seu olhar lhe pertence mais, pois a patronal pode ver através de seus olhos. Esse é o segredo do estado alemão escondido por trás da “narrativa positiva” da “Indústria 4.0”, para aumentar suas taxas de lucro e salvar sua burguesia imperialista de mais uma crise do capitalismo, na infinita competição interburguesa por extração da mais valia. Mas enquanto materialista histórico é preciso dizer, que é a luta de classes que define os rumos da história e também o sentido empregado às tecnologias. Se irão servir para alimentar os lucros milionários de um pequeno punhado de burgueses, se voltará a reduzir cidades inteiras a cinzas nas guerras, ou se estará a serviço da libertação da humanidade, somente os próximos fenômenos da luta de classes poderá dizer. Não existe nenhum aparato tecnológico que não tenha surgido das mãos e mentes da classe trabalhadora, o futuro pertence a nós (Levy Sant’Anna em Futuro, robôs e a Boston Dynamics)”
As leis do Capital só existem inamovíveis à medida que a história não impõe a emergência de objetos e processos que permitam a própria ressignificação e a reestruturação das leis em questão. As leis do Capital nem sempre são as mesmas, mas o que aqui importa dizer é a necessidade da presença da indexação de sujeitos a essas leis dinâmicas, com categorias em metamorfose.
De todo modo, o que marxismo não pode deixar de pautar em hipótese alguma, para assim fortalecer a luta dos explorados, é que as pessoas foram úteis até determinado ponto de desenvolvimento do capitalismo. Quando os trabalhadores não são mais úteis, a burguesia simplesmente deixa de subsumi-los às dinâmicas repaginadas do sistema, porquanto de antemão cria novas “naturezas” na toada de redimensionamento de novos processos históricos. E o que a burguesia está engendrando é o contínuo aprimoramento de técnicas de produção visando a consecução de sua perseverança como classe opressora e fascistoide: núpcias contra naturezas tomadas como obsoletas e manufatura de paraísos artificiais, por meio de que brinca de ser Deus.
A burguesia não pode escamotear as irônicas brincadeiras estéticas inerentes às recomposições envaidecidas do capital. Não por acaso, nunca deixa de financiar viagens espaciais, insinuando o objetivo de plasmar “artisticamente” a Terra como inferno planetário abandonado, enquanto almeja construir ou habitar planetas distantes. Onirismo onanista dos “pequenos príncipes que se querem imortais”, mesmo sendo vampiros desencantados os quais almejam suicidariamente a produção de bunkers celestes: satélites planetários aquartelados com amparo de robôs e sicários hightech muito bem pagos.
Muito além de Hegel, a burguesia mais hardcore sente poder dizer que o espírito absoluto tende a desgarrar-se das nações e das sociedade civis hodiernas. Sob a perspectiva ideológica burguesa o espírito absoluto é muito mais do que a figura de uma coruja iluminada. Pateticamente quer se transmutar em vetor interplanetário.
Os Estados Nacionais e as “sociedades civis” em acelerado abandono pós-moderno estão sendo esmagados pela lógica burguesa que se quer intergaláctica, com corporações almejando, ainda de modo frustrado, baterem em retirada. Ainda não podem e demorará muitos anos pra realizar seu delírio final (“solução final” nazistoide) porque necessitam de matérias-primas e indivíduos terrestres que ainda servem de núcleo energético para acumulação de riquezas.
Mas não é loucura aqui a assertiva de que estão mirando a ideia latente de que, com a passagem dos anos, as nações devam diferenciar-se em microcosmos cujos centros de poder serão governados de modo extraterreno em complemento com a especulação metafísica dos bancos e sistemas financeiros supervisionados e geridos diretamente de satélites, far far away.
Os pesadelos de Isaac Asimov são os delírios orgásticos da burguesia, almejando fazer com que nações e exércitos ainda em Terra cumpram estritamente a tarefa de se plasmarem em sucursais rebaixadas, cuja precisão é a de explorarem e destruírem cirurgicamente regiões e inocentes que ainda servirão de adubo para a expansão do capital extraterreno. É o caso claro que podemos atestar em A nebulosa visita do empresário Elon Musk e o lítio brasileiro(clique no texto para acessar).
Para transporte de mercadoria, vislumbram “navios turbinados” sobre o oceano espacial; para esfera da circulação de mercadoria, uma nova paisagem, que terá como vitrine cometas e estrelas, com outdoors hologramáticos e pontos de vendas ultrapersonalizados. Enquanto isso, a burguesia tende a condicionar a superfície terrestre ao subsolo noturno, uma cova global invisibilizada em longo prazo, mas sempre útil, embora apagada paulatinamente dos mapas de suas intensões.
O vídeo abaixo, dá sinais de que o delírio é concreto, e parte de um sadismo infantil ambicioso. Confira abaixo.
Por trás do esmagamento das premissas hegelianas e sob o pano de fundo das dinâmicas implicadas nos horizontes burgueses hightech e interplanetário, o objetivo é precisamente o de transformar os mais pobres desalentados e trabalhadores, assim como as classes médias, em párias sociais, até cronicamente vagarem pelos desertos do real como almas penadas. Trata-se de um silencioso neomalthusianismo, tão frio e calculista quanto a morte.
Para legitimar essa morte em massa a tendência é a de que também haja a duplicação da natureza do homem nas máquinas inteligentes, intentando criar outro metabolismo social para o capital, com capital constante se modificando em capital variável, por meio de que o morto se “humaniza” como mercadoria, no compasso em que o vivo é mortificado. Com esses experimentos locais via pesquisas militares da Darpa, MIT, NSA (etc.), a burguesia brinca de Deus, em complemento ao sonho de desertar do planeta.
Nesse sentido, o trabalho assalariado tende a inexistir porque em breve a burguesia não precisará aumentar seu capital mediante vácuos ou lacunas de labor humano não pago. Em complemento com técnicas infalíveis, a mais-valia tal como a conhecemos poderá estar sendo recodificada, transmutada em seus próprios termos econômicos, políticos e jurídicos. As máquinas “humanizadas” e turbinadas não precisam ser pautadas na lógica do homem-mercadoria assalariado, recebendo um valor correspondente para sua subsistência, de modo a ceder seu corpo e espírito em acordo com algumas horas comerciais. Algo que Jonathan Crary já tinha muito bem antecipado na sua obra capitalismo tardio e os fins do sono, apesar de aplicar sua pesquisa estritamente à ideia de que o capitalismo exige lançar mão de trabalhadores sob a condição de estarem 24horas em alerta. Ora, pela dinâmica do que até aqui estamos abordando, talvez em breve até mesmo isso será desnecessário.
O corpo e o espírito dos humanoides, sintetizados pelo somatório de inteligência artificial, machine learning e robótica prescindem da necessidade de sobrevivência instintiva, assim como da ideia de salário, de tempo de trabalho socialmente necessário, de lazer e de descanso. Os cálculos matemáticos do capital estarão encarnados na pele das máquinas inteligentes, e não na carne ensanguentada dos trabalhadores, embora tal cenário ainda esteja relativamente distante.
A burguesia visa produzir e “explorar” inteligentes máquinas ultrassofisticadas para extraírem riquezas do planeta, as quais não vão sentir fome, não precisaram voltar pra casa para abraçar suas famílias, sofrendo o luto contínuo das agruras da vida cotidiana. Para tanto, o emprego dos lucros e impressão de moeda fictícia tende a ser cada vez mais intensamente direcionado para a manutenção e desenvolvimento das máquinas, em proporção aos gastos com pesquisas militares correspondentes. Tais pesquisas, o que não é lá uma grande novidade, são voltadas ao aperfeiçoamento dos programas de produção de máquinas inteligentes, as quais tendem a sentir, dialogar e aprender com os homens sem as necessidades básicas primordiais, em cenários semelhantes aos de séries como Black Mirror, ou de filmes como JUNG\_E, Ex_Machina e Blade Runner.
O que está expresso pode ser testemunhado para além da ficção, não apenas com a produção de robôs inteligentes (“Sophia”), mas no lançamento de ferramentas de incorporação em nuvem de ideias humanas e produção de discursos, como ChatGPT, com quem podemos dialogar através da transferência “voluntária” de nossos aprendizados para a máquinas. Nessa toada, ressalte-se aqui apps que criam imagens digitais “gamificadas” e “novos mundos possíveis” enquanto protótipos simulados de novos corpos e planetas abstratos, com diferentes temas estéticos simulados, como o Lexica, o Instant.art, o MidJourney, o BlueWillow, etc. Nem mesmo Jean Baudrillard poderia prognosticar o que está expresso sem algum embaraço e espanto, uma vez que seu pessimismo ainda era pequeno dimensionalmente para atestar a sensação escabrosa interpelada pelo problema colocado.
Por meio desse quadro sintomático, é necessária a afirmação da tendência de que a dinâmica do salário, do tempo de trabalho socialmente necessário e da mais-valia como eixos estruturantes que subsumem os seres humanos à lógica do capitalismo esteja desmoronando vertiginosamente em função das mutações no metabolismo social do capital e aceleração de composição orgânica da propriedade privada por meio de ardis complementares e inesperados que levam fundamentalmente em consideração a produção de máquinas que aprendem com a espécie humana para tendencialmente se autonomizarem, tomando como ponto de partida a simulação de práticas, condutas e expressões humanas, com as crises cíclicas podendo ser apenas sintomas de superfície no presente momento histórico.
Considerações Finais
A partir do que aqui está expresso é possível então demonstrar a derrocada de premissa fundamental de Hegel em torno do espírito absoluto, tanto quanto indicar com elementos evidentes a impossibilidade do marxismo seguir em frente caso não faça uma revisão de seus próprios termos. Trata-se aqui, evidentemente, do marxismo e seus representantes, e não de Karl Marx ou Engels.
Tratemos dos vivos enquanto ainda há tempo, porquanto estejamos agora mesmo respirando e, fundamentalmente, pensando e criticando nosso tempo com a missão de aprimorar a teoria marxista para, com isso, dar condições aos trabalhadores de possuírem meios mais sofisticados de compreensão da realidade, a partir da complexidade que atualmente está plasmada como objetividade do próprio deserto do real capitalista.
Cabe dizer que algumas mudanças significativas são necessárias, porquanto a história e o materialismo dialético à luz da pressão temporal das corporações burguesas neste século pressionam para ressignificação de algumas categorias. Sem isso, o trabalho de base mediante a organização do proletariado estará não apenas radicalmente comprometido, porquanto as bases teóricas mal elucidadas apontam para a própria destruição do marxismo e daqueles que dizem a ele estarem filiados, em articulação com suas mais diversas tendências.
Os modos de organização do capital estão se redimensionando, passam a se perpetuarem através de profundas diferenciações e entropias internas, pelas quais aparentemente repetem suas premissas ao passo em que se reconfiguram no seu metabolismo, dinâmica e paisagem. É necessário ter clareza que a lógica do capital é transbordada pela luta de classes e por meio de forças históricas intra e interburguesas. Mas tomando como ponto de partida o que aqui está em jogo, não é adequada a manutenção de chaves de leitura acerca do capitalismo no século 21 sob a ótica dos séculos anteriores.
Não estamos no final do século 19, muito menos no início do século 20. Inclusive, já não estamos mais na fase fordista, por meio da qual Lenin se pautou com o impulso bolchevique por meio do qual era permitido lhe dar com grandes aglomerados de trabalhadores em um único e mesmo espaço físico. Ao modelo da fábrica foram adicionados novos elementos condicionantes, com máquinas inteligentes tomando frente do processo produtivo, e esmagando a presença de números amplos de operários em fábricas. Seguindo este processo, outros espaços de trabalho foram profundamente modificados, reduzidos em suas dimensões, assim como distintos processos foram implementados em paralelo com as emergências tecnológicas de ocasião.
Além das geografias das fábricas e dos espaços de trabalho os centros urbanos foram imensamente modificados, submetidos aos controles e vigilâncias individuais antes não possibilitados. A geografia do globo está inteiramente cartografada e mapeada digitalmente, não apenas em função das câmeras, satélites, google maps e da internet das coisas, mas das redes emaranhadas de LANs (Local Area Network), WANs (Wide Area Network) e WLAN (Wireless Local Area Network), todos com sede na DARPA, no W3C, no Pentágono e no MIT.
Urge pararmos de absolutizar o capitalismo como sistema econômico-politico ahistórico. Mesmo quando pensamos estar atentos aos processos históricos e suas modificações é comum a operação de elucubrações relativas aos momentos anteriores do capitalismo, almejando muitas vezes a repetição de bordões otimistas e frases de efeito sem reais capilaridades na vida cotidiana, gerando até mesmo a antipatia (anticomunista) das classes trabalhadoras.
Costumam tratar da realidade dos trabalhadores de modo fictício, puramente imaginário, sem a precisão de acompanharem as modificações reais do mundo do trabalho, as mutações objetivas que interpelam as subjetividades e os nazismos ressuscitados por meio de paradigmas hightech que atuam como um rolo compressor pautado em outra calibragem, como acima colocamos com muita clareza. Utilizamos como suporte pesquisas de camaradas que já estão atentos à exigência da mudança, que intenta não apenas diagnosticar as novas tendências burguesas, mas, através delas, apostar na precisão do entendimento renovado da luta de classes no âmago do século 21, permitindo sem escamoteio um marxismo que esteja à altura da tarefa histórica a que sempre propôs: a revolução proletária e superação humanista das classes em luta, sob o prisma da historicização e mutações intrínsecas a necessidade de persistência de tal revolução, para que assim não seja descartada e vista pelos próprios oprimidos como objeto de escárnio e deboche.
Abrir o debate é absolutamente fundamental, para não continuarmos a fazer do marxismo mais uma espécie de neopentecostalismo anacrônico.
[…] O texto recente escrito de Augusto Souza, somado ao de José Martins, acabam por desvelar a essência desse processo, quando complementados analiticamente. Para além do que acima está expresso cabe denunciar simultaneamente o agravante de que agora existem robôs assassinos na parada, como está bem expresso no recente artido: Ucrânia se torna laboratório para uso de robôs assassinos. Confira o áudio da matéria abaixo, conforme também já havia sido publicado em Hegel em xeque e Marxismo na berlinda da indústria 4.0? […]
[…] O texto recente escrito de Augusto Souza, somado ao de José Martins, acabam por desvelar a essência desse processo, quando complementados analiticamente. Para além do que acima está expresso cabe denunciar simultaneamente o agravante de que agora existem robôs assassinos na parada, como está bem expresso no recente artido: Ucrânia se torna laboratório para uso de robôs assassinos. Confira o áudio da matéria abaixo, conforme também já havia sido publicado em Hegel em xeque e Marxismo na berlinda da indústria 4.0? […]
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